Ordem natural do reverso. Universalizo-me por uma perdida lua.
Estandarte paralelo a mim mesmo em uma torre ocasional
Construo-me e rompo com a voz surda
Grito e vou contrariando a antiga forma
Formando longe a faixa e a marca do que ainda não sei.
Por outros dias, a barca rompia meu rio mais longe
E não conseguia identificar a margem, suava a fronte imatura.
Hoje, navegação distante, luta do maior atravessando
Para todos estes braços que surgem do meu corpo busco a utilidade
E coordená-los não me faz tranquila, os remos vão mais rápido
E não posso, não aprendi a lidar deste modo
Volto ao porto e Pessoa me espera
Tejo desconhecido carregando minha consciência: não vejo pra onde me levará
Para onde corre? Em que lado nasce?
Salvo eu mesma afogada. Folgada que estou, me sinto sem ar.
Mas sobra espaço. Em qual entonação está meu vácuo?
Ainda quero despertar, sentir a tranquilidade do nascente.
Por estes dias, tenho dado a luz a cores suaves
Encho delas o rio em torno de minha canoa
Mágico que é, me acolhe como filha e esquece essa coisa de humanidade
Somos do mesmo material: cor, resultado da luz nos refletindo
E reflito: sou eu ou o rio no reflexo? Já não existe separação.
Parar com a condenação autoritária, coloco-me em solitárias
Confundo as mulheres que sou. Agora a canoa também sou eu.
Ou eu sou a canoa? Mulher que sou, me vejo mocinha.
E o rio me vê inofensiva. E muitos me vêem nociva
Imagem torcida que monto sem ver. Cegos são mais reais.
Gosto de soluçar a eternidade, desforma contínua
que passeia como pássaros no nosso céu imaginário
Vejo suas asas no espelho d’água. Perdi a noção do real.
Quero transformar-me.
Pelos dias futuros, indago a respiração, oscilo imóvel.
Folha das árvores dos meu cadernos a caírem na água
As letras borram. E o escrito que me estrutura dissolve.
Dissolvo. Flutuo pelas bordas, pelas margens a indagar os parágrafos.
Para onde vão agora que estão vazios?
E me torno repleta de letras soltas, querendo dizer sem saber como.
Como era doce estar cheia.
27/06/01